sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Antologia SUPER-HERÓIS

Pois é. Virei antologista.

Uma empreitada completamente nova para mim, em uma ideia junto à editora Draco e ainda de quebra tendo meu prezadíssimo Gerson Lodi-Ribeiro a bordo.

A Draco, para quem não conhece ainda, especializou-se em seus já dois anos de existência, em coletâneas de literatura fantástica, ficção científica e suas variantes.

Seguem as guidelines, presentes no blog do Gerson e no da editora. Divulguem, divulguem... :)

Antologia SUPER-HERÓIS
Guidelines


O.k., nem todo mundo curte os filmes e quadrinhos de super-heróis. Porém, se você gosta de escrever literatura fantástica e não se inclui nessa minoria, gostaríamos de convidá-lo a submeter um conto para apreciação na antologia que estamos organizando para a Editora Draco, cujo título provisório (imaginativo) é Super-Heróis.

Nossa proposta é organizar uma antologia de contos bem escritos que abordem as aventuras de super-heróis de forma criativa, original e preferencialmente com tempero lusófono. Tanto faz se seu herói é humano ou alienígena, se possui superpoderes ou não, se é um bom sujeito ou nem tanto — embora, em princípio, prefiramos que nossos autores deixem os vilões do tipo sociopata mascarado para uma eventual Super-Heróis II: Supervilões. Tampouco importa se você mostrará a gênese do seu herói ou se ele cairá de paraquedas no meio de uma grande aventura. O importante é que seu(s) protagonistas sejam psicologicamente bem delineados e que suas aventuras / desventuras constituam uma leitura instigante e divertida.

Fanfiction? No que se pese ser difícil reinventar a roda, no quesito originalidade, não desejamos receber fanfictions. Nada contra trabalhos escritos por fãs para homenagear seus heróis favoritos no âmbito amador dos blogues e e-zines. Contudo, no âmbito profissional, a história é outra. Daí, no intuito de evitar a possibilidade de nos tornarmos (autores, antologistas e editores, não necessariamente neste ordem) réus em processos judiciais movidos pelos detentores legítimos dos direitos autorais sobre super-heróis criados por terceiros, incentivamos com empenho os autores que pretendem participar deste projeto a criar seus próprios heróis em vez de “tomar emprestado” personagens da Marvel, DC ou outras empresas. Para evitar riscos desse gênero, rejeitaremos pronta e inapelavelmente sem apreciação do mérito literário qualquer trabalho que nos pareça fanfiction.

Tamanho: Desejamos apreciar trabalhos entre 3.000 e 12.000 palavras. Isto não significa que submissões fora deste intervalo serão sumariamente rejeitadas. Se o conto analisado possuir qualidade literária e se enquadrar na temática proposta, essa qualidade será considerada em nossa apreciação, mesmoque o texto seja menor ou maior do que o limite proposto. Noentanto, a bem da sinceridade, deixamos claro que apreciaremoscom maior simpatia trabalhos dentro do intervalo referido.

Filosofia de trabalho: Analogamente, gostaríamos dereceber trabalhos criativos e originais cujos enredos mostrassem heróis ou super-heróis inseridos direta ou indiretamente na cultura brasileira e/ou portuguesa, mostrando o impacto socialda existência e das proezas desses personagens e de seus superpoderes nessa cultura. Não se trata de uma exigênciaestrita. Trabalhos que nada tenham a ver com o Brasil ou comPortugal serão apreciados com a atenção devida e poderão sereventualmente aceitos. Porém, cumpre frisar nossa predileçãopor contos lusófonos de corpo (i.e, escritos por autoresportugueses e brasileiros) e espírito (enredo, personagens, ambientação lusófonos).

Deadline: 31 de março de 2012.

Data de lançamento (provável): Fantasticon 2012.

Eis aqui a oportunidade ímpar do autor lusófono de literatura fantástica criar seu próprio super-herói e imortalizá-lo nas páginas impressas da Super-Heróis.

As submissões devem ser enviadas apenas em versão eletrônica, formato rich text file (.RTF), para os e-mailslfvasques@gmail.com e glodir@unisys.com.br, com cópia de segurança para o e-mail ericksama@gmail.com. Confirmaremos a recepção de todos os trabalhos recebidos.

Dúvidas? Não hesite em contatar os seus antologistas de plantão.

Gostaria de discutir sua trama ou linha de enredo conosco? Não se acanhe. A casa é sua! Estamos aqui para isto.

Aguardamos ansiosamente a submissão do seu trabalho.

Luiz Felipe Vasques & Gerson Lodi-Ribeiro (antologistas)

Erick Sama (editor).

Setembro de 2011.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Paul




Assisti Paul ontem, ótima comédia de ficção-científica. Numa sinopse, dois nerds ingleses em um grande tour "temático" pelos EUA - da Comic Con à Roswell, por exemplo - encontram um alienígena fugitivo da Área 51.

As situações são engraçadíssimas, o elenco é ótimo com vários rostos conhecidos, e situações clichês típicas, fora a impressão que metade do roteiro foi escrito com falas clássicas dos filmes do gênero. Mais uma variante da temática nerd, mesmo ao ponto de uma certa metalinguagem.

O filme é protagonizado e escrito por Simon Pegg e Nick Frost, de Hot Fuzz e o impagável Shaun of the Dead.

Sendo uma produção americana, e por ter tantas referências, achei que faltou uma certa acidez britânica como, por exemplo, dos dois filmes citados. Mas é muito legal, mesmo assim.

Apenas cuidado ao procurar o trailer no youtube ou algo assim, ele entrega muitas piadas.

sábado, 16 de julho de 2011

Trailer de John Carter de Marte


Uma obra dos primórdios da ficção-científica, com um personagem capaz de dar grandes saltos e ter força elevada devido à baixa gravidade do planeta onde ele chega - Superman? Não, John Carter de Marte, por Edgar Rice Burroughs - o mesmo criador de Tarzan dos Macacos.

No Brasil, Uma Princesa de Marte, o primeiro livro com o personagem, saiu pela editora Aleph.

Gostei do trailer.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Artigo de Lúcio Manfredi...

... diretamente de seu ótimo blog (na coluna ao lado, Epistemonike Phantasia), sobre "Que diabos é a tal da New Space Opera?", em três partes. Primeira, segunda e terceira.

Uma ótiima análise, cheia de dicas de leitura pelo caminho, esmiuçando as origens da designação e o que a leva atual de autores faz para enriquecer o subgênero e, fatalmente, a Ficção-Científica como um todo.

Pessoalmente, se Hyperion Cantos, muito bem citada no artigo, sair algum dia no Brasil, já me darei por satisfeito.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mortal Engines

Mortal Engines, ed. Novo Século (2011)

Li Mortal Engines, de Phillip Reeves, na edição brasileira pela Novo Século.

O livro se passa em um futuro distante, na Terra, onde uma série de catástrofes, naturais e a tal "Guerra dos Sessenta Minutos", que no mínimo usou artefatos nucleares, redesenhou a face da Terra, fazendo com que muito de civilização tenha-se perdido. O que restou da mesma reorganizou-se em "cidades tracionadas", habitats com edificações sobre motores e gigantescas esteiras rolantes, indo até as fontes de suprimentos quando necessário - dentre as quais, destacando-se outras cidades móveis.

É a era do "darwinismo municipal", onde as cidades se devoram umas às outras, atrás de recursos e escravos, para que a sociedade sobre suas esteiras possa continuar funcionando. Assim é Londres, onde o livro começa, uma das maiores cidades tracionadas, com diversos conveses dando-lhe uma forma piramidal, que também reflete o status social de seus habitante, com a elite vivendo nos níveis superiores em luxuosas villas, e o operariado próximo ao barulho, calor e gases dos motores e esteiras. Londres, nestes tempos de escassez, vive faminta.

É uma maneira interessante de se repensar as cidades, o termo "ser urbívoro" surge, e foi uma ótima sacada. Há um conto original para toda esta história (com algumas pequenas discrepâncias entre ambas as obras) chamado Urbivore. Para quem já pensava nas cidades como organismos vivos de alguma forma, bem... agora elas se movem.

Mulher, pegue as crianças e entre no dirigível - Londres vem aí, e está faminta.

Phillip Reeve compôs algo com imagens vívidas. Eu facilmente imagino não um filme - Peter Jackson está interessado -, mas uma animação, aliás japonesa. Tem horas que pareço estar lendo um animê - e não, não estou denegrindo. Metrópolis, a versão de Katsuhiro Otomo, particularmente me ocorre. Cabe, entretanto, alertar que essa é uma obra mais para um público juvenil, caso haja interessados nesta distinção, para comprá-la ou evitá-la.

E a história? Direto ao ponto. O protagonista é Tom Nateworthy, um jovem órfão insatisfeito com seu trabalho tedioso como Terceiro Aprendiz de Historiador, sonha com aventuras, sendo arremessado de forma cruel contra aquilo que sempre quis. No caminho, encontra pessoas diferentes do que já se acostumara dentro de Londres, tipos folclóricos, com histórias, propósitos e dores variadas, além do que, no final das contas, era sua grande "zona de conforto". Os demais personagens são muito interessantes tendo ótimas descrições (Anna Fang e Thaddeus Valentine são larger-than-life), e o que chegam a sugerir sobre si mesmos apenas aumentam a sensação de já se vê-los, em filme ou animação. Tom é de uma generosidade inquebrável, junto de uma teimosia típica de quem se decepciona com o mundo que o trai ao redor, mas ainda assim, persiste. Os demais personagens já têm suas próprias histórias, Tom chega a ser quase passageiro na dos outros, ajudando (às vezes a contra gosto) como pode - destaque para Hester Shaw, aliás -, ao invés de ser o real protagonista para onde todas as histórias convergem.

Não há um segundo de descanso em sua viagem, salvo quando passa algum tempo capturado, até que algo - inesperado - aconteça e ele se ponha em marcha novamente. A trama segue por cenários inventivos e detalhados, a poderosa imaginação de Reeve segue a todo vapor, até um final apoteótico.

Agora, fica aqui um puxão de orelha. Só lamento o fato que a Novo Século, qual com Eu Sou a Lenda, continua marcando bobeira com a tradução e a revisão, e dessa vez os erros foram em maior quantidade do que neste outro livro, que comentei ano passado. Novamente, merecia um cuidado maior. Não me parece que "Salvamento" seja a melhor opção para o termo Salvaging (Recuperação poderia funcionar melhor), mas definitivamente skeleton crew não é uma "tripulação de esqueletos" (p. 278). Termos deixados em inglês talvez para uma segunda revisão - ou mera falta de vocabulário? Fora termos que ora aparecem em inglês, ora em português. E a construção de pelo menos um parágrafo estava truncada. E como isto tudo não bastasse, o próprio português: a caUda de um animal não é a caLda de pêssego (p. 24). E oblíquo não deveria começar um texto formal... espero que em edições futuras isto possa ser melhor tratado.

Até porque, Mortal Engines é parte de uma tetralogia. Segurem-se, pois aí vem mais!

279 p.

Atualizações 28/05: para mais resenhas de Mortal Engines, há as ótimas escritas por Romeu Martins e no Café de Ontem.

domingo, 22 de maio de 2011

Caprica


Assisti os 17 episódios da única temporada de Caprica, série originada do remake de Battlestar Galactica, mostrando um pouco do mundo das doze colônias, passando-se 58 anos antes do ataque fulminante dos cylons.

É um formato bastante diferente da série original, não se passando em pleno espaço, mas antes em terra, em uma sociedade "intoxicada pelo sucesso", como foi dito na Wiki da série.

Isto tira a "ação espacial" e gera uma história que lembra séries como Dallas ou Dinastia, com o conflito de interesse dos ricos e poderosos levando a situações extremas e letais. Também há uma pequena dose de teen angst e, ainda, a concepção de moderno/avançado é apresentado com elementos retrô, para se referenciar no passado de BSG, em um efeito semelhante da Gotham City de Batman: The Animated Series.


Tudo isto e um roteiro por vezes com a impressão de truncado (especialmente na segunda parte da série, depois do intervalo da produção) podem afastar fãs potenciais, especialmente dos que apreciam mais o formato mais direto ao ponto da série de onde Caprica se originou (para tal, Blood and Chrome vem ai).

Ao situar a história tantas décadas antes, a idéia era mostrar como tudo começou: traços de personalidade dos cylons, a questão do monoteísmo x politeísmo e o fanatismo religioso + terrorismo, como robôs passam a ser psicóticos religiosos, as tensões entre os oriundos das diversas colônias (e, de quebra, a infância de Bill Adama, comandante da própria Galactica na série de 2004-2009 -- ok, houve aqui uma pequena trapaça, mas eu compreendo), etc.

Não sei se me esqueci ou não entendi algumas coisas, mas talvez alguns pontos entre ambas as séries, em termos de continuidade, tenham ficado não em aberto, mas conflitantes. Mas realmente não me incomoda, neste caso em específico.

A interação e as possibilidades de um mundo virtual (também presentes em um outro piloto de série não-relacionado com este universo do mesmo produtor, Virtuality - resenha minha aqui) são bastante exploradas na série, não somente sobre qual ambiente ser real ou virtual, mas se uma pessoa inteiramente digital pode vir a ser considerada real; tudo passando por com implicações de crença e manipulação religiosa.


Aproveita e faz um pequeno retrato dos EUA, em sua incessante paranóia com terrorismo, o lidar com outras etnias: o personagem de Daniel Greystone, nativo de Caprica, é o próprio WASP, os de Tauron são uma mistura de árabes (no sentido mais étnico, não religioso), gregos e mesmo sicilianos, especialmente por seus laços com crime organizado e fortes tradições familiares.

O elenco é muito bom, com Eric Stoltz finalmente aparecendo em mais do que cinco minutos de tela. Há ainda Polly Walker, a eterna Atia dos Julii em Roma.

Eu só tenho a lamentar que divergências criativas com o SyFy Channel encerraram uma das mais interessantes séries de ficção-científica que eu já vi. Havia muito, muito mais a ser explorado, um universo riquíssimo apresentado em um formato de programa que está longe da space opera ou do investigativo-paranormal em que parece se dividir a FC na televisão hoje em dia. Acho que veremos mais deste híbrido pela próxima década, talvez Caprica seja meio groundbreaking neste ponto, e pagou o preço por ser novidade.

Recomendo.

SpaceBlooks 2011 - Release Oficial

Com curadoria de Octavio Aragão, doutor em Artes Visuais (UFRJ) e professor da Escola de Comunicação da UFRJ, a segunda edição do encontro traz a cidade, de novo, para o centro do universo de alienígenas, mundos paralelos e fenômenos inexplicáveis que conquista uma crescente legião de fãs.

Este ano, o SpaceBlooks ganhou mais uma noite e um convidado internacional: Rob Shearman, escritor britânico vencedor do World Fantasy Awards, finalista do prestigiado prêmio Hugo, e um dos roteiristas da série cult britânica Doctor Who.

"A maior parte dos seriados tem seu pé bem plantado em conceitos de Sci-Fi, vide os fenômenos Lost, Heroes, Fringe e The 4400... Ter um roteirista do gênero e escritor premiado falando sobre seu processo de trabalho na TV inglesa será um presente para todos nós", comemora Aragão.

A programação inclui Lúcio Manfredi, de Dom Casmurro e Os Discos Voadores (Leya), e Pedro Vieira, de Memórias Desmortas de Brás Cubas (Tarja Editorial) - autores de mashups que ousaram lançar mão de obras do "bruxo do Cosme Velho" em romances polêmicos, que mexeram com o panorama literário no final do ano passado. Além deles, Gerson Lodi-Ribeiro faz a noite de autógrafos do seu A Guardiã da Memória (Draco), no terceiro e último dia do evento. A Draco aproveita e lança, também, Space Opera, antologia com textos de diversos autores brasileiros sobre naves espaciais, alienígenas e armas futuristas.

Data: 30 e 31/05 e 01/06, às 19h. Local: Blooks Livraria - Praia de Botafogo 316, Botafogo (Unibanco Arteplex) - (21) 2559-8776 / Grátis.

facebook.com/blookslivraria & twitter.com/Blooks

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Selecionados da Coletânea 'Dieselpunk'

Do blog de Gérson Lodi-Ribeiro, eis os participantes:

  • “Ao Perdedor, as Baratas” [Antonio Luiz da Costa];
  • “Auto do Extermínio” [Cirilo Lemos];
  • “Cobra de Fogo” [Sidemar Castro];
  • “O Dia em que Virgulino Cortou o Rabo da Cobra sem Fim com o Chuço Excomungado” [Octavio Aragão];
  • “A Fúria do Escorpião Azul” [Carlos Orsi Martinho];
  • “Grande G” [Tibor Moricz];
  • “Impávido Colosso” [Hugo Vera];
  • “Pais da Aviação” [Gerson Lodi-Ribeiro]; e
  • “Só a Morte te Resgata” [Jorge Candeias].

Parabéns aos escolhidos!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Spaceblooks 2 confirmado

do site da Livraria Blooks:


Fãs da ficção científica, peguem sua agendas! O Spaceblooks está de volta! Nos próximos dias 30 e 31 de maio, às 19h a Liga Galáctica estará de prontidão para receber o evento que está mexendo com o cenário sci-fi do Rio de Janeiro.
O Spaceblooks foi criado em 2010 para abrir um espaço, no Rio de Janeiro, para a discussão da literatura de ficção científica, mas também de suas conexões com o cinema, a televisão e outras tantas mídias. Com produção Blooks e curadoria do nosso parceiríssimo Octávio Aragão, abrimos novamente a pauta de bate-papo, para fazer do Rio outra vez centro das atenções nos universos de alienígenas, mundos paralelos e fenômenos inexplicáveis.
Vamos agora aos participantes dessa nova edição:
  • Lúcio Manfredi, escritor e roteirista. Autor de Dom Casmurro e os Discos Voadores (Lua de Papel, editora do grupo Editora Leya);
  • Pedro Vieira, escritor. Autor de Memórias Desmortas de Brás Cubas (Tarja Editorial);
  • Robert Shearman, escritor e roteirista do clássico seriado da TV inglesa Doctor Who;
  • Estamos confirmando a participação virtual de Kim Newman, jornalista, crítico e escritor inglês, autor de Anno Dracula (Aleph).
Nas próximas semana vamos preparar muito material aqui no blog sobre o Spaceblooks e suas reverberações no tempo-espaço. Acompanhem a gente estejam conosco nos dias 30 e 31. São nossos convidados e contamos com a presença de vocês! Aguardem mais sinais do espaço exterior!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Filmes Brasileiros de Ficção-Científica

E um blog dedicado a isto, ora, quem diria! Já na coluna ao lado.

Rapaz, como tem coisa!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Space Blooks 2

Space Blooks foi o nome do evento, ano passado, de alguns dias de palestra na livraria Blooks, situado à praia de Botafogo, 316, no Unibanco Arteplex, com o tema de Ficção-Científica e pondo nomes nacionais envolvidos com literatura fantástica.

O organizador, Octávio Aragão, twitou d'alguns dias atrás sobre o evento, este ano (aliás, maneiro, não sabia que dava pra obter este efeito):

Octavio Aragão
E as datas: 30 e 31 de maio. Formato diferente do ano passado.
Octavio Aragão
Já adianto os temas: Mashup, Alta Fantasia e New Weird.
Octavio Aragão
Em casa. Daqui a pouco começo a enviar os convites para os participantes do

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Isaac Asimov

O primeiro livro de ficção-científica que eu li foi uma edição da CEDIBRA de Eu, Robô, emprestado de uma prima minha, há muito tempo. O dano já havia sido feito alguns anos antes, com Guerra nas Estrelas, que tive a euforia ao assistir no cinema em quando passou no Rio em 78 - sim, houve uma época em que os filmes demoravam até chegar na periferia do império -, mas através daquele livro eu entrei na FC através das letras.

Eu, Robô, de alguma forma não me soava tão "moderno" como a FC de Guerra nas Estrelas (ou mesmo de Jornada nas Estrelas ou, que diabos, Perdidos no Espaço) , mas lembro que as histórias contadas intrigavam. Eram enigmas e a prova da exceção em um sistema de regras aparentemente perfeito, com as Três Leis da Robótica a gerenciar os avançados cérebros positrônicos, o núcleo da inteligência artificial de computadores e robôs de forma humanóide. Em um mundo de ordem prevista, Asimov inseria o caos. Claro, nada traumático, escritores da antiga como ele ou Clarke eram otimistas, antes de mais nada: tudo acabava bem.

Eram também histórias vivendo uma espécie de microcosmo, nada do alcance do destino de galáxias ou da raça Humana (ainda viria a ser apresentado a Fundação anos depois), apesar do conto final tratar das Três Leis em uma escala global. Os personagens, não exatamente desenvolvidos, talvez exatamente por não se saber muito além de seus nomes e função, acabavam por me interessar, exatamente por sua falta de descrições: Mike Donovan, Greg Powell e, é claro, a Dra. Susan Calvin, psicóloga de robôs.

Outro livro dele que lembro com carinho (e que espero, seja devolvido em breve e inteiro...) é O Futuro Começou (The Early Asimov), pela editora Hemus, espécie de autobiografia, com diversos de seus primeiros contos comentados, antes e ao final, a partir de anotações em seus diários pessoais. Apesar de gostar das histórias, para mim o melhor eram as anotações pessoais, onde um estilo bem humorado fluia. Semelhante é O Mundo da Ficção Científica (Asimov on Science Fiction), pela ed. Fransisco Alves, um livro sobre o gênero, que acho que qualquer interessado francamente deveria ler.

Asimov escreveu mais de 300 livros, sobre praticamente qualquer assunto. Era grande divulgador de ciência, ele próprio Ph.D em Química; embora fosse mais conhecido como escritor de Ficção-Científica.

Em 1977, devido a um enfarto, teve que se submeter mais tarde a uma operação para a instalação de marca passo, em 1983. Devido à falta de controle da época, pelas transfusões de sangue contraiu o vírus HIV, vindo a falecer de complicações nos rins em 6 de Abril de 1992. Aconselhado pelos médicos, não divulgou-se à época a causa da morte, por questões de preconceito, para proteger a família.

Uma pena. Poderia ter sido uma grande voz contra o preconceito e de esclarecimento sobre a questão, como a vida inteira foi.

Suas idéias influenciaram vários outros autores e programas, quando o assunto era inteligência artificial e robôs inteligentes, e ainda hoje em dia vê-se ecos aqui e ali. Ajudou, enfim, a dar forma à ficção-científica como a temos hoje em dia. Faz falta.

Obrigado, sinceramente, por tudo. Pelos livros, pelas idéias, pelos sonhos.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Cidade e as Estrelas


A Cidade e as Estrelas (1956), por Arthur C. Clarke

Spoilers zone ahead.

Reli, após uns quinze anos ou mais, A Cidade e as Estrelas (em edição de 1979 da Ed. Nova Fronteira), de Arthur C. Clarke. Bom ver que muito do que eu havia admirado ainda está lá. Entretanto, confesso que não foi a leitura fácil que eu acreditava ser. Tantos anos depois, alguns trechos me soaram meio chatos, fora uma certa datação do texto em si (ou terá sido da tradução?), não necessariamente das idéias apresentadas.

Curiosamente, procurando material para estes comentários, eu me deparei com este artigo na wikipedia que conta que The City and the Stars é a reescrita do mesmo autor de Against the Fall of the Night, que eu não conhecia. Apesar das muitas mudanças, a primeira versão nunca deixou de cair no gosto dos fãs.

A história é passada em alguns bilhões de anos no futuro, e nos apresenta Diaspar, a última cidade da raça Humana, fisicamente bastante similar tudo considerado, um modelo de ambiente de perfeição auto-sustentada. Diaspar é totalmente - salvo por túneis de ventilação - isolada do mundo ao redor, do qual só um imenso deserto pode ser visto, protegida por um enorme domo opaco. Dentro, o conforto material e intelectual dos estáveis dez milhões de habitantes vem sido mantido com perfeição pelas máquinas criadas há tanto tempo, especialmente pelo Computador Central - e como em toda a utopia, sempre tem um chato.

E ele é Alvin, que nunca não se satisfaz com tudo dado de mão aberta em Diaspar: desde cedo, ele quer ir além de suas fronteiras, mesmo que o que demonstra existir do lado de fora não seja exatamente encorajador.

Entra em cena Khedron, o Bufão de Diaspar, sempre disposto a agitar um pouco da ordem pública da cidade, dando a Alvin ferramentas para ir adiante com sua inusitada e preocupante mania. No que resulta disso, nem Khedron consegue enfrentar.

Ocorre que um bilhão de anos de Diaspar são montados em premissas falsas, que começam a cair quando Alvin descobre uma outra cidade, bastante diferente de Diaspar, Lys (que é mais uma região com diversas vilas), situada bem além do deserto ao redor de sua cidade.

A sociedade em Lys é bastante diferente da projetada em Diaspar. Lys não só conhece a presença de Diaspar, como a monitora. Em Lys, as pessoas levam um modo de vida voltado ao cultivo do solo (há uma natureza exuberante naquele terreno), com alguma vantagem tecnológica: mas são todos hábeis telepatas, fruto do planejamento genético e evolução após um bilhão de anos, sendo ainda grandes geneticistas e biólogos; enquanto que em Diaspar vivem dez milhões de diletantes ("todos são artistas"), dependendo inteiramente de máquinas para o que for. Os habitantes de Lys nascem e morrem em cerca de dois séculos, os de Diaspar são gerados já crescidos pelo Computador Central e tutorados por casais dispostos a ajudar nos primeiros vinte anos, para ajuste social e enquanto suas memórias não florescem - é como se já nascessem sabendo, resultado de inúmeras vidas com circuitos de memória armazenados após mil anos por vida, quando em geral decidem que já "está bom" e têm os corpos desmanchados pelo sistema da cidade. Sim: sexo, somente, para recreação. Utopia, pois. O critério de reinserção dos que já morreram na sociedade é de acordo com uma estatística de perfil de compatibilidade.

É óbvio que ambas as sociedades estão em isolamento e estagnação, devido a um grande temor do passado, e que precisam romper isto: a arcadiana Lys e a tecnológica Diaspar.

Há uma forte semelhança entre Alvin e Neo, da - por enquanto - trilogia The Matrix: ambos vêm de uma última cidade do Homem, criada por temor a um inimigo externo. E, principalmente: ambos são variações únicas de seus respectivos meios criadas pela máquina de tempos em tempos para testar o sistema, e levar tudo e todos a um novo patamar.

Para retratar o quão longe o ser Humano foi, Clarke abusa dos números: as estimativas mais modestas são na casa de mil anos. Seres e eventos de milênios, milhões e bilhões de anos perambulam pela história - grandiosidade que faz parte do sense of wonder que o autor é um mestre.

No final, A Cidade e as Estrelas acaba sendo uma história sobre eternidade - uma que mostra que nada dura para sempre.

244 p.
Editora Nova Fronteira

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Éden 4 e Outras Histórias Fantásticas

Éden 4 e Outras Histórias Fantásticas

Éden 4 e Outras Histórias Fantásticas (2001), de Alexandre Raposo, é uma coletânea de histórias que variam entre ficção-científica e as que têm certo tom de estranheza, lembrando às vezes o que vi de Richard Matheson, embora uma certa virulência deste falte em Raposo. Claro, a idéia não é uma comparação frontal.

Buscando um sense of wonder em alguns contos, Raposo despeja informação e números, é bom pelo menos ver - ou sentir... - que alguma pesquisa foi feita. Entretanto, os textos às vezes me soam no limite do prolixo, mas não compromete, de fato, a leitura. E sim, o sense funciona.

Há uma certa dose comedida de bom-humor (sombrio no mínimo, senão negro), que às vezes deixa a narrativa mais leve, ou simplesmente mais estranha, que funciona para a história em questão.

No geral, os contos são interessantes, a destacar:

A Caixa de Pandora e Éden 4 são as que talvez mais se "comprometam em ser" ficção-científica. A Caixa... nos traz uma das sondas Voyager e seu famoso disco de ouro, com informações sobre a cultura humana, como o centro motriz de uma civilização que a encontra, bilhões de anos no futuro. A história desta raça é contada em retrospecto, e seu empenho em encontrar os seres Humanos. Não escapa da tentação de revelar surpresas no último momento possível (como também no conto A Onda), mas ao menos não se tornou o clichê que eu receava que fosse.

De Olhos Bem Abertos, referência óbvia ao penúltimo filme de Stanley Kubrick, embora a história nada tenha a ver, daria um bom roteiro, envolvendo crime e parapsicologia. Tem um belo final.

Entrevista com um Alienígena usa como base exogênese e, se entendi, xamanismo. É bem interessante, e de forma similar ao A Caixa de Pandora, os Bilhões e Bilhões estão aí, perfilando, para a nossa consideração.

Ambulante ("senhoras e senhores passageiros, eu poderia estar roubando, mas estou aqui...") é uma piada, da qual já ouvi se tornando realidade: ninguém pode dizer que eles não tentam. Não tem nada de literatura fantástica, mas também não precisa.

A Cerveja em Três Tempos também é bastante divertida, fala de cerveja, agruras e soluções através da História.

Justiça é o conto mais sombrio de todos, uma história sobre vingança, que não se espera ouvir enquanto seu bar favorito está fechando. Ou talvez sim.

Éden 4, a história-título, fecha o volume e é sobre um astronauta que retorna à Terra e à consciência duas vezes no futuro distante e mais distante ainda, primeiramente em uma espécie de distopia feminista e depois, para uma nova chance para a Humanidade como um todo, em um final que remonta antigos inícios.

Particularmente fracos eu achei A Onda, Ano-bom e Succubus.

Boa e - sim - rápida leitura, concluí em poucas horas.

Éden 4 e Outras Histórias
240 p.
Editora Record

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Duna no Escrevinhamentos

Excelente resenha sobre o clássico Duna, de Frank Herbert, pelo meu prezadíssimo Victor Barone em seu Escrevinhamentos.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Nas Montanhas da Loucura

Nas Montanhas da Loucura, editora Iluminuras (1999)

Spoilers abaixo. Be aware.

Concluí esta edição da Iluminuras, que contém a história-título e que abre o livro, e ainda as histórias A Casa Temida, Os Sonhos na Casa Assombrada e O Depoimento de Randolph Carter, todos por Howard Phillip Lovecraft.

Nas Montanhas Da Loucura (1936) é escrita em primeira pessoa, como de hábito do autor, na voz de um sobrevivente de uma expedição científica à Antártida, sendo testemunha de eventos terríveis, executados pelas habituais Coisas Que o Homem Não Deve Saber - só que aqui, tudo hiperdimensiona, fazendo desta uma das histórias capitais de Lovecraft.

Somos levados à uma cidade perdida, atrás de cordilheiras intransponíveis no gelo antártico, maiores que o Himalaia e o Monte Everest, cidade esta de dezenas de milhões de anos, criada por seres alienígenas tanto em origem quanto em composição, assim como a saber de sua História e seu terrível destino. O problema é afogar-se em tantas descrições: há o exótico, há o alienígena, há o assombro e há o terror, e inúmeros adjetivos ao longo do caminho, repetições de ênfases, etc. Menos, como dizem, é mais.

Havia tentado ler a primeira história ainda na edição da saudosa Francisco Alves, mas desistira. Por mais que eu adore as idéias de H. P. Lovecraft, sua prosa por vezes me parece o principal obstáculo, senão o único de fato, para realmente usufruí-las.

Mas consegui chegar ao fim das 126 páginas desta edição, e estou feliz por fazê-lo - ainda mais com o filme acenando logo além do horizonte.

A Casa Temida (1937) foge um pouco da ficção-científica/terror que Lovecraft passou a adotar (apesar do exorcismo científico), com a descrição do histórico sombrio assim como a criação da atmosfera da tal casa muito bem montadas.

Os Sonhos na Casa Assombrada (1933), outra história de... hum, casa mal-assombrada, com ligações mais usuais com o Mythos de forma geral. O processo de enlouquecimento do protagonista, entre equações matemáticas e sonhos com uma velha bruxa, é descrito de maneira atraente, e vemos um pouco mais da cidade de Arkham, um dos cenários naturais que Lovecraft usa.

O Depoimento de Randolph Carter (1920) é a história mais curta, também em primeira pessoa, de um sobrevivente que por uma questão de poucos degraus não testemunhou o Indizível que levou um amigo seu.

Não obstante os problemas que eu possa ter com o estilo de Lovecraft, em termos de cultura pop eu o tenho como um dos escritores mais influentes do Século XX e XXI, com sua obra influenciando diversos outros escritores de seu tempo, e mesmo cineastas, quadrinistas e projetistas de videogames de hoje em dia.

Nas Montanhas da Loucura
224 p.
Editora Iluminuras

UPDATE: link para a Rede RPG deste texto, com alguns acréscimos.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Outros Brasis


Outros Brasis, por Gerson Lodi-Ribeiro (2006)

Terminei Outros Brasis, de Gerson Lodi-Ribeiro. Havia comprado na mesma noite de lançamentos que A Mão Que Cria, resenhado logo abaixo, mas que só agora pude ler.

A ficção-científica apresentada no livro é do tipo da História Alternativa, que se baseia em outros resultados através da História que resultam em situações diferentes: começa com uma pergunta, e se... Napoleão não tivesse sido derrotado em Waterloo, o Eixo tivesse vencido a II Guerra Mundial, Constantinopla não tivesse caído para os Otomanos, Júlio César sobrevivesse ou evitasse o atentado mortal no Senado - claro, processos históricos não se dão ao acaso - embora o acaso sempre possa estar à espreita, sabe-se como influenciando este ou aquele grande evento.

O livro apresenta duas possibilidades de Brasil, em O Agente de Palmares e Pax Paraguaya, com duas histórias cada. Em ambas, processos históricos outros levaram ao desmembramento do território do país - e estes são mundos melhores para sua população.

No Brasil de O Agente de Palmares (O Vampiro de Nova Holanda, Assessor para Assuntos Fúnebres), a conquista holandesa se firma em Pernambuco e arredores, aliás Nova Holanda, sob a regra benevolente de Maurício de Nassau, e os quilombos de ex-escravos se consolidam em uma nação à parte, a República Palmarina, aliada com Nova Holanda. Ambas são demonstradas como sendo progressistas, contra um Brasil luso atrasado. Palmares já foi reutilizada pelo menos uma vez, se não me engano na coletânea Outras Copas, Outros Mundos (editora Ano-Luz, 1998). Na primeira história, há uma descrição do Recife dos 1700 modernamente urbanizado que valia ser retratado visualmente.

O protagonista-título é uma criatura vampiresca, uma raça humanóide de origem antiga e incerta, que ao contrário do vampiro tradicional, reproduz-se entre machos e fêmeas de sua própria espécie e não se transforma em animais, vapor ou coisas do tipo, embora tenha armas naturais e força sobre-humanas. Dentes-Compridos é seu nome, nascido no auge do Império Inca, e com os séculos, acaba tendo um entendimento especial com os Palmarinos, passando a um emissário, digamos. É dele também Assessor para Assuntos Fúnebres, ambientado na Londres do Século XIX, quando é mostrado o seu encontro com ninguém menos que Jack, o Estripador.

Ambas as histórias contidas n'O Agente de Palmares são interessantes e aventurescas. O Vampiro de Nova Holanda introduz rapidamente dois personagens que, infelizmente, pouco participam muito da história, a princesa banto Amalamale e o espadachim francês Phillipe Bergerac. Espero que em futuras expansões eles tornem a aparecer, assim como outros personagens. Assessor para Assuntos Fúnebres aumenta as possibilidades do universo ficcional, mas eu não senti que tenha acrescentado tanto assim para identificar aquele Brasil alternativo.

Mapa da América do Sul em Pax Paraguaya
gentilmente cedido pelo autor. Clique para ampliar.

Pax Paraguaya utiliza dois pontos de divergência histórica para sustentar sua tese: a de que os EUA se tornam um país recluso após sua Guerra Civil e que o Paraguai vence a Batalha do Riachuelo, abrindo mais tarde a oportunidade de derrotar a Tríplice Aliança; passando este Paraguai triunfante a moldar o destino do Século XX a partir disto, em um mundo bem melhor, via de regra, do que o nosso.

O otimismo excessivo desta visão é admitido, no meio da trama d'A Ética da Traição, quando o Brasil e o mundo observados - os nossos - da realidade alternativa aqui apresentada admitidamente têm mais chances de ocorrer: mais pobres, mais injustos, mais medíocres. Tenho a impressão que o autor utilizou parte de algum ideário próprio para provocar este pequeno exagero, que servirá de mola para a tal 'ética da traição' do título.

Pesquisar o período sobre o qual irá se divergir é boa parte da diversão sobre o que vai ser escrito, e tenho certeza que querer compartilhar esta com o leitor também. Há uma tendência, portanto, a um didatismo talvez o autor tenha sucumbido. Não me afetou muito, na verdade, tive mais problemas com o detalhamento técnico de observações e viagens no Tempo envolvido na história -- embora ela não seja sobre isto, e sim, sobre consequências de um conflito ético que realmente faz pensar.

Crimes Patrióticos precede A Ética da Traição, e na forma de um atentado político, abre o universo alternativo de Pax Paraguaya. Bem mais curta, interessante à sua maneira, com dilemas e obsessões de dois homens indo cumprir seu dever. Na verdade, assim como Assessor..., esta história apenas dá um gostinho de quero mais para ambos Brasis.

No geral, o saldo é bastante positivo, sim, e entendo que, ao lado de O Vampiro de Nova Holanda, A Ética da Traição é uma de suas histórias mais famosas: Outros Brasis traz ao público brasileiro uma chance recente de poder ler ambas.

Outros Brasis
207 p.
Editora Mercuryo

domingo, 16 de janeiro de 2011

Os Filhos de Matusalém

Os Filhos de Matusalém (1958)

Aviso: spoilers abaixo.

Terminei Os Filhos de Matusalém, de Robert Heinlein, em edição da extinta Francisco Alves de 1978.

É, até onde entendi, o primeiro livro onde figura um dos principais personagens, senão o principal, do autor, chamado Lazarus Long.

A história é sobre o drama passado pelas ditas Famílias Howard, que vivem séculos antes de morrer, por terem começado um processo de escolha de parceiros conjugais baseados na longevidade de seus antepassados. Em 2125, eles resolvem ir à público e revelar sua condição, e a reação popular é a pior possível: ninguém acredita que não haja uma "Fonte da Vida Eterna", e logo eles perdem seus direitos civis mais básicos, como coerção para que entreguem o segredo. Dissecação está à vista. O jeito é fugir do sistema solar, roubando a primeira nave construída pela Humanidade a destinada a explorar as estrelas, vencendo os anos-luz, e torcer para encontrar um mundo adequado. 100 mil pessoas reunidas em um autêntico campo de concentração se atulham na nave, e fogem.

Alguns tantos anos se passam, e eles se deparam com dois planetas com possibilidade para a vida.

No primeiro, há uma raça que os acolhe bem, e apesar das diferenças de linguagem e mentalidade, a situação é bastante pacífica - até que fica claro que os deuses dos nativos existem, e na verdade estes são como os animais de estimação de entidades que não se revelam, ou não podem ser reveladas. Fica claro que os humanos não são material para serem animais de estimação, e o poder dos deuses faz com que os 100 mil partam em sua nave, sem conflito algum.

No segundo sistema solar, uma raça com grandes poderes telepáticos também os acolhe, e oferece uma bela paisagem verdejante onde não há falta de alimento ou de nada: a aparente falta de cidades ou tecnologia oculta uma raça que conhece matemática e biologia a tal ponto que a mera vontade canalizada consegue originar novas espécies a partir do que é existente. E ainda, suas consciências são coletivas - algo que aterroriza os protagonistas, especialmente quando uma humana, longeva porém preocupada com a morte, resolve se deixar levar pela coletividade e se funde mentalmente com a raça.

Estabelecido ainda que o paraíso é uma chatice quando não há nada a fazer, a volta para casa é planejada. Nem todos vão, é da escolha de cada um, e os que retornam o fazem 75 anos depois que fugiram. Entre a longevidade e questões relativísticas, para eles não passou tanto tempo assim.

Spoilers o suficiente depois, então, questões...

Heinlein, de formação de Exatas, passa algum tempo com os personagens em cogitações técnicas e científicas a respeito de velocidades acima à da luz. Sendo tudo novo para o gênio de bordo (Andrew Jackson "Slipstick" Libby, outro personagem recorrente de Heinlein), que constrói o mecanismo de navegação FTL - algo inédito ainda para a Humanidade -, dúvidas e elocubrações sobre a natureza do que estavam fazendo surgem o tempo todo. Sob um certo aspecto, o personagem está só (ainda que não sintamos, como leitores, esta solidão), pois suas dúvidas podem ser apenas expressas aos demais em linguagem cotidiana, o que, é claro, não faz ninguém entender realmente o problema. Como me disse um amigo, aliás físico, 'o mapa não é o território'. Não me meti a querer entender os problemas propostos por Heinlein, e fui adiante. Mas isto não atravanca a leitura, nem se torna assunto recorrente ou que se dependa a compreensão para usufruirmos a história.

O triunfo do indivíduo genial, parte da filosofia típica americana e que Heinlein adota sem o menor problema, está lá - especialmente na figura de Lazarus Long. O velho individualismo humano faz com que 'deuses' expulsem os homens de um planeta, e o conformismo aparente de um paraíso material e a diluição em uma mente coletiva são anátema para tal... olha, até aqui eu sou capaz de entender. Mas ai vem o final.

O final me incomoda. Porque mostra que essa mesma mentalidade, tão desafiadora a princípio, na verdade junta-se com uma visão bastante conservadora. Então, a noção de viajantes que fogem para sobreviver e que passam pelo ineditismo de dois primeiro-contatos com inteligências alienígenas (experimentando ainda situações de convívio) terminarem a viagem, quando de volta à Terra, preocupados em exigir seus direitos e recuperar sua propriedade privada... parece-me de uma mediocridade sem par.

Tirando isso, é um livro que diverte, oferece idéias poderosas por trás de tudo, a descrição dos alienígenas como algo realmente alienígena e como tentar lidar com diferenças insolúveis é bastante inspirador... o leitor brasileiro poderia ser beneficiado com uma futura edição com nova tradução, a deste volume eu acho que já caducou, assim como a mentalidade de quando foi escrita.

Os Filhos de Matusalém
216 p.
Ed. Francisco Alves