quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mortal Engines

Mortal Engines, ed. Novo Século (2011)

Li Mortal Engines, de Phillip Reeves, na edição brasileira pela Novo Século.

O livro se passa em um futuro distante, na Terra, onde uma série de catástrofes, naturais e a tal "Guerra dos Sessenta Minutos", que no mínimo usou artefatos nucleares, redesenhou a face da Terra, fazendo com que muito de civilização tenha-se perdido. O que restou da mesma reorganizou-se em "cidades tracionadas", habitats com edificações sobre motores e gigantescas esteiras rolantes, indo até as fontes de suprimentos quando necessário - dentre as quais, destacando-se outras cidades móveis.

É a era do "darwinismo municipal", onde as cidades se devoram umas às outras, atrás de recursos e escravos, para que a sociedade sobre suas esteiras possa continuar funcionando. Assim é Londres, onde o livro começa, uma das maiores cidades tracionadas, com diversos conveses dando-lhe uma forma piramidal, que também reflete o status social de seus habitante, com a elite vivendo nos níveis superiores em luxuosas villas, e o operariado próximo ao barulho, calor e gases dos motores e esteiras. Londres, nestes tempos de escassez, vive faminta.

É uma maneira interessante de se repensar as cidades, o termo "ser urbívoro" surge, e foi uma ótima sacada. Há um conto original para toda esta história (com algumas pequenas discrepâncias entre ambas as obras) chamado Urbivore. Para quem já pensava nas cidades como organismos vivos de alguma forma, bem... agora elas se movem.

Mulher, pegue as crianças e entre no dirigível - Londres vem aí, e está faminta.

Phillip Reeve compôs algo com imagens vívidas. Eu facilmente imagino não um filme - Peter Jackson está interessado -, mas uma animação, aliás japonesa. Tem horas que pareço estar lendo um animê - e não, não estou denegrindo. Metrópolis, a versão de Katsuhiro Otomo, particularmente me ocorre. Cabe, entretanto, alertar que essa é uma obra mais para um público juvenil, caso haja interessados nesta distinção, para comprá-la ou evitá-la.

E a história? Direto ao ponto. O protagonista é Tom Nateworthy, um jovem órfão insatisfeito com seu trabalho tedioso como Terceiro Aprendiz de Historiador, sonha com aventuras, sendo arremessado de forma cruel contra aquilo que sempre quis. No caminho, encontra pessoas diferentes do que já se acostumara dentro de Londres, tipos folclóricos, com histórias, propósitos e dores variadas, além do que, no final das contas, era sua grande "zona de conforto". Os demais personagens são muito interessantes tendo ótimas descrições (Anna Fang e Thaddeus Valentine são larger-than-life), e o que chegam a sugerir sobre si mesmos apenas aumentam a sensação de já se vê-los, em filme ou animação. Tom é de uma generosidade inquebrável, junto de uma teimosia típica de quem se decepciona com o mundo que o trai ao redor, mas ainda assim, persiste. Os demais personagens já têm suas próprias histórias, Tom chega a ser quase passageiro na dos outros, ajudando (às vezes a contra gosto) como pode - destaque para Hester Shaw, aliás -, ao invés de ser o real protagonista para onde todas as histórias convergem.

Não há um segundo de descanso em sua viagem, salvo quando passa algum tempo capturado, até que algo - inesperado - aconteça e ele se ponha em marcha novamente. A trama segue por cenários inventivos e detalhados, a poderosa imaginação de Reeve segue a todo vapor, até um final apoteótico.

Agora, fica aqui um puxão de orelha. Só lamento o fato que a Novo Século, qual com Eu Sou a Lenda, continua marcando bobeira com a tradução e a revisão, e dessa vez os erros foram em maior quantidade do que neste outro livro, que comentei ano passado. Novamente, merecia um cuidado maior. Não me parece que "Salvamento" seja a melhor opção para o termo Salvaging (Recuperação poderia funcionar melhor), mas definitivamente skeleton crew não é uma "tripulação de esqueletos" (p. 278). Termos deixados em inglês talvez para uma segunda revisão - ou mera falta de vocabulário? Fora termos que ora aparecem em inglês, ora em português. E a construção de pelo menos um parágrafo estava truncada. E como isto tudo não bastasse, o próprio português: a caUda de um animal não é a caLda de pêssego (p. 24). E oblíquo não deveria começar um texto formal... espero que em edições futuras isto possa ser melhor tratado.

Até porque, Mortal Engines é parte de uma tetralogia. Segurem-se, pois aí vem mais!

279 p.

Atualizações 28/05: para mais resenhas de Mortal Engines, há as ótimas escritas por Romeu Martins e no Café de Ontem.

domingo, 22 de maio de 2011

Caprica


Assisti os 17 episódios da única temporada de Caprica, série originada do remake de Battlestar Galactica, mostrando um pouco do mundo das doze colônias, passando-se 58 anos antes do ataque fulminante dos cylons.

É um formato bastante diferente da série original, não se passando em pleno espaço, mas antes em terra, em uma sociedade "intoxicada pelo sucesso", como foi dito na Wiki da série.

Isto tira a "ação espacial" e gera uma história que lembra séries como Dallas ou Dinastia, com o conflito de interesse dos ricos e poderosos levando a situações extremas e letais. Também há uma pequena dose de teen angst e, ainda, a concepção de moderno/avançado é apresentado com elementos retrô, para se referenciar no passado de BSG, em um efeito semelhante da Gotham City de Batman: The Animated Series.


Tudo isto e um roteiro por vezes com a impressão de truncado (especialmente na segunda parte da série, depois do intervalo da produção) podem afastar fãs potenciais, especialmente dos que apreciam mais o formato mais direto ao ponto da série de onde Caprica se originou (para tal, Blood and Chrome vem ai).

Ao situar a história tantas décadas antes, a idéia era mostrar como tudo começou: traços de personalidade dos cylons, a questão do monoteísmo x politeísmo e o fanatismo religioso + terrorismo, como robôs passam a ser psicóticos religiosos, as tensões entre os oriundos das diversas colônias (e, de quebra, a infância de Bill Adama, comandante da própria Galactica na série de 2004-2009 -- ok, houve aqui uma pequena trapaça, mas eu compreendo), etc.

Não sei se me esqueci ou não entendi algumas coisas, mas talvez alguns pontos entre ambas as séries, em termos de continuidade, tenham ficado não em aberto, mas conflitantes. Mas realmente não me incomoda, neste caso em específico.

A interação e as possibilidades de um mundo virtual (também presentes em um outro piloto de série não-relacionado com este universo do mesmo produtor, Virtuality - resenha minha aqui) são bastante exploradas na série, não somente sobre qual ambiente ser real ou virtual, mas se uma pessoa inteiramente digital pode vir a ser considerada real; tudo passando por com implicações de crença e manipulação religiosa.


Aproveita e faz um pequeno retrato dos EUA, em sua incessante paranóia com terrorismo, o lidar com outras etnias: o personagem de Daniel Greystone, nativo de Caprica, é o próprio WASP, os de Tauron são uma mistura de árabes (no sentido mais étnico, não religioso), gregos e mesmo sicilianos, especialmente por seus laços com crime organizado e fortes tradições familiares.

O elenco é muito bom, com Eric Stoltz finalmente aparecendo em mais do que cinco minutos de tela. Há ainda Polly Walker, a eterna Atia dos Julii em Roma.

Eu só tenho a lamentar que divergências criativas com o SyFy Channel encerraram uma das mais interessantes séries de ficção-científica que eu já vi. Havia muito, muito mais a ser explorado, um universo riquíssimo apresentado em um formato de programa que está longe da space opera ou do investigativo-paranormal em que parece se dividir a FC na televisão hoje em dia. Acho que veremos mais deste híbrido pela próxima década, talvez Caprica seja meio groundbreaking neste ponto, e pagou o preço por ser novidade.

Recomendo.

SpaceBlooks 2011 - Release Oficial

Com curadoria de Octavio Aragão, doutor em Artes Visuais (UFRJ) e professor da Escola de Comunicação da UFRJ, a segunda edição do encontro traz a cidade, de novo, para o centro do universo de alienígenas, mundos paralelos e fenômenos inexplicáveis que conquista uma crescente legião de fãs.

Este ano, o SpaceBlooks ganhou mais uma noite e um convidado internacional: Rob Shearman, escritor britânico vencedor do World Fantasy Awards, finalista do prestigiado prêmio Hugo, e um dos roteiristas da série cult britânica Doctor Who.

"A maior parte dos seriados tem seu pé bem plantado em conceitos de Sci-Fi, vide os fenômenos Lost, Heroes, Fringe e The 4400... Ter um roteirista do gênero e escritor premiado falando sobre seu processo de trabalho na TV inglesa será um presente para todos nós", comemora Aragão.

A programação inclui Lúcio Manfredi, de Dom Casmurro e Os Discos Voadores (Leya), e Pedro Vieira, de Memórias Desmortas de Brás Cubas (Tarja Editorial) - autores de mashups que ousaram lançar mão de obras do "bruxo do Cosme Velho" em romances polêmicos, que mexeram com o panorama literário no final do ano passado. Além deles, Gerson Lodi-Ribeiro faz a noite de autógrafos do seu A Guardiã da Memória (Draco), no terceiro e último dia do evento. A Draco aproveita e lança, também, Space Opera, antologia com textos de diversos autores brasileiros sobre naves espaciais, alienígenas e armas futuristas.

Data: 30 e 31/05 e 01/06, às 19h. Local: Blooks Livraria - Praia de Botafogo 316, Botafogo (Unibanco Arteplex) - (21) 2559-8776 / Grátis.

facebook.com/blookslivraria & twitter.com/Blooks

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Selecionados da Coletânea 'Dieselpunk'

Do blog de Gérson Lodi-Ribeiro, eis os participantes:

  • “Ao Perdedor, as Baratas” [Antonio Luiz da Costa];
  • “Auto do Extermínio” [Cirilo Lemos];
  • “Cobra de Fogo” [Sidemar Castro];
  • “O Dia em que Virgulino Cortou o Rabo da Cobra sem Fim com o Chuço Excomungado” [Octavio Aragão];
  • “A Fúria do Escorpião Azul” [Carlos Orsi Martinho];
  • “Grande G” [Tibor Moricz];
  • “Impávido Colosso” [Hugo Vera];
  • “Pais da Aviação” [Gerson Lodi-Ribeiro]; e
  • “Só a Morte te Resgata” [Jorge Candeias].

Parabéns aos escolhidos!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Spaceblooks 2 confirmado

do site da Livraria Blooks:


Fãs da ficção científica, peguem sua agendas! O Spaceblooks está de volta! Nos próximos dias 30 e 31 de maio, às 19h a Liga Galáctica estará de prontidão para receber o evento que está mexendo com o cenário sci-fi do Rio de Janeiro.
O Spaceblooks foi criado em 2010 para abrir um espaço, no Rio de Janeiro, para a discussão da literatura de ficção científica, mas também de suas conexões com o cinema, a televisão e outras tantas mídias. Com produção Blooks e curadoria do nosso parceiríssimo Octávio Aragão, abrimos novamente a pauta de bate-papo, para fazer do Rio outra vez centro das atenções nos universos de alienígenas, mundos paralelos e fenômenos inexplicáveis.
Vamos agora aos participantes dessa nova edição:
  • Lúcio Manfredi, escritor e roteirista. Autor de Dom Casmurro e os Discos Voadores (Lua de Papel, editora do grupo Editora Leya);
  • Pedro Vieira, escritor. Autor de Memórias Desmortas de Brás Cubas (Tarja Editorial);
  • Robert Shearman, escritor e roteirista do clássico seriado da TV inglesa Doctor Who;
  • Estamos confirmando a participação virtual de Kim Newman, jornalista, crítico e escritor inglês, autor de Anno Dracula (Aleph).
Nas próximas semana vamos preparar muito material aqui no blog sobre o Spaceblooks e suas reverberações no tempo-espaço. Acompanhem a gente estejam conosco nos dias 30 e 31. São nossos convidados e contamos com a presença de vocês! Aguardem mais sinais do espaço exterior!