terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Edgar Alan Poe - Contos do Terror


Edgar Allan Poe - Contos do Terror  - Newton Compton Brasil (1995)

Pela Coleção Econômicos Newton, adquiri esta coletânea daquele que é considerado como mestre por H. P. Lovecraft. Um dos autores mais influentes no gênero terror-gótico, também foi menosprezado em sua época, somente depois de sua morte sendo descoberto primeiro na Europa (por Baudellaire) para depois, nos EUA, ter o reconhecimento tardio: Edgar Alan Poe (1809 - 1949).

Só o conhecia mais de fama e de que tanto falam do que, realmente, por obra. E da obra, só conhecia O Corvo, talvez seu escrito mais famoso - e que sempre muito gostei, apesar de uma certa resistência interna à poesia.

A intenção deste volume foi, do que entendo, reunir os textos de Poe mais "explícitos" em relação ao sobrenatural. São eles O gato preto, A queda da Casa de Usher, O enterro prematuro, O coração denunciador, Uma descida no Maelstrom, O manuscrito encontrado em uma garrafa e O poço e o pêndulo.

Narrados em primeira pessoa, o personagem - sem nome - sempre está sob uma ameaça constante, real ou imaginária, de alguma força que, percebe logo ou não, está além de seu controle. São as descrições de cada momento, do oprimir de cada batida do coração, da respiração que vai pesando, dos passos cada vez mais pesados, até o final. São narrativas claustrofóbicas, antes de mais nada - O enterro prematuro que o diga.

Eu não sou crítico literário, sou apenas prolixo. Vou então me alongar naquilo que me fez sentir, como de hábito.

Eu achei que O gato preto talvez seja a melhor história de terror/horror. Não só pela questão do gato em si, mas da maldade inerente do personagem, que se diz bom quando mais jovem, mas que agora cometia maldades pelo bel-prazer da coisa, não obstante ainda reconhecer que o mal feito ao outro era o mal feito a si mesmo:

"Quem não se viu centenas de vezes realizando uma ação vil ou estúpida por nenhum motivo, exceto o de que não deveria realizá-lo? Não somos dominados por uma eterna tendência a violar, apesar das nossas melhores intenções, aquela que é a LEI, somente porque sabemos que é essa que estamos infringindo? Este espírito de perversidade foi a causa de minha completa desgraça. Foi essa insondável propensão da alma a torturar a si mesma - a violentar a própria natureza - a fazer o mal somente pelo prazer de fazê-lo - que me induziu a continuar e a levar até o fim a ofensa que tinha infringido ao inocente bichinho. Uma manhã, a sangue frio, deslizei um laço no pescoço dele e enforquei-o no galho de uma árvore; enforquei-o enquanto lágrimas caíam dos meus olhos e o remorso mais atroz torturava o meu coração. Enforquei-o porque sabia que ele me amara e porque não me dera nenhum motivo para sentir-me ofendido - enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado - um pecado mortal que colocaria minha alma imortal de maneira a pô-la, se isto fosse possível, fora até do alcance da infinita misericórdia do Deus Mais Misericordioso e Terrível." 

Cheerful, hm?

Essas considerações me fazem lembrar alguns escritos na coletânea da Novo Século Eu Sou A Lenda, de Richard Matheson, que já comentei aqui no blog, que também versa muito bem sobre a bestialidade humana... é o conto que mais me impactou.

Time's up.

De resto, pareceu a mim que Poe - com o risco de estar "descobrindo" alguma pólvora - às vezes torce por finais felizes. Exigências de mercado? Em O gato preto e O coração denunciador, seus personagens assassinos agem de forma a estragar seus crimes perfeitos: a Justiça é servida. Enterro prematuro e O poço e o pêndulo trazem a salvação no último segundo. Em Descida ao Maelstrom, bem ou mal o protagonista sobrevive, ainda que sorte semelhante não pareça ter ocorrido ao de O manuscrito encontrado em uma garrafa - dois contos onde o mar é o grande inimigo. A queda da casa de Usher também não termina exatamente bem, e nos apresenta a noção da decadência espiritual dos habitantes de uma mansarda se misturando com a decadência física da moradia.

O estilo de época, para o filisteu que infelizmente também posso ser, cansa-me um pouco, com seus excessos e minúcias sobre estados emocionais - sim, Romantismo, eu sei. Mas é claro que há momentos. Os ratos fazendo a festa sobre o corpo do protagonista em O poço e o pêndulo não me deixarão dormir mais cedo - contos do torror? Missão cumprida.

Edgar Allan Poe - Contos do Terror
94 p.
Newton Compton Brasil

John Carter - Entre Dois Mundos



Ok, o que deu de errado?

No elenco, um trio parada-dura diretamente da magistral Roma, da HBO: Ciarán Hinds (o imortal Júlio César), James Purefoy (Marco Antônio) e Polly Walker (Atia dos Julii, Evil Matriarch por excelência), esta emprestando a voz para uma personagem feminina vilanesca (outra...) digital mas que, apesar de alguma relevância no livro, no filme fica completamente em segundo plano. Sob maquiagem digital estão ainda William Daefoe como Tars Tarkas e Samantha Northon como Sola, mostrando o rosto temos os vilões Dominic West (cuja carreira já valeu pelo McNulty de The Wire, outro gol de placa da HBO) e Marc Strong (Lord Blackwood do primeiro Sherlock Holmes, e ótimo vilão full-time).

Sério, um elenco desses... e tudo o que se consegue fazer é John Carter - Entre Dois Mundos? Nada contra um filme baseado neste personagem que vem da proto-ficção-científica, da mesma pena que nos deu Tarzan dos Macacos: mas algo contra este filme.

Talvez parte do prejuízo de bilheteria que a Disney amargou seja exatamente por apostarem no rosto bonito dos protagonistas, do que no talento ao redor escolhido para servir de escada para eles (coisa que dá incrivelmente certo em O Homem da Máscara de Ferro, com Gerárd Depardievski, Gabriel Byrne, John Malkovich e Jeremy Irons subalternos a... Leonardo diCaprio: mas o tempo de participação de tela é bem mais presente aqui do que os acima, isto qdo não sob maquiagem digital...).

Talvez parte seja porque, como todos os filmes acima de uma escala orçamentária, os produtores ficam nervosos e empurram fórmulas e rostos/nomes de sucesso, independente de talento ou o melhor nome para a melhor função.

Talvez parte tenha sido o fato de ser um filme da Disney, com piadinhas e bichinhos inevitáveis.

Não acho que tenha sido por qualquer purismo: a história de John Carter, e sua personalidade, estão bem modificadas, envolvendo os três primeiros livros e mais o que veio dos roteiristas. Ninguém mais sabe o que foram esses livros, não ao ponto de formar uma base de fãs irritante ou algo assim.

Eu só consigo lamentar neste filme o grande desperdício de senhores atores. Sempre ouvi falar que um diretor de animação pode dirigir um filme live action. Depois de assistir isto, tenho dúvidas. Não lembro de ter visto o desperdício de nomes assim. Não sei se porque Andrew Stanton (Wall-E) ignorou o potencial, ou o roteiro foi futucado a não mais poder, ou o quê...

No final das contas, é apenas um filme mediano. Que custou um quarto de bilhão de dólares e, mundo, arrecadou somente pouco abaixo de 283 milhões.

(Por último: de bomba em bomba, os protagonistas Taylor Kitsch e Lynn Collins também participaram de X-Men Origins: Wolverine, como Gambit e Silverfox: alguém precisa de um agente melhor).